As últimas Flores do Jardim das Cerejeiras – Grupo Oficcina Multimédia

Uau, foi de tirar o fôlego o lindo e emocionante espetáculo “As Últimas Flores do Jardim das Cerejeiras”, do Grupo Oficcina Multimédia, de Belo Horizonte!

Ontem (05 de maio de 2012), eu, um grupo de amigos artistas e parentes fomos assistir, no Galpão Cine Horto,  a esse surpreendente espetáculo. Além de ser fã do grupo e de sua diretora Ione de Medeiros, eu tinha uma motivo muito particular para assistir à esse trabalho: “As Últimas Flores do Jardim das Cerejeiras” constitui um dos objetos de estudo do meu projeto de Doutorado.

Já na sala de entrada, que antecede o local de encenação, fomos surpreendidos por um espaço liminar do espetáculo: espécie de cômodo de espera ritualístico, em que deveríamos retirar os nossos tênis e sapatos, que nos conduziu ao cenário/labirinto do poderoso e assustador Minotauro. Porém, antes da entrada no espaço de acontecimento teatral, alguns avisos importantes foram dados pela equipe de produção. Dentre eles: “se você é claustrofóbico ou possui alguma doença cardíaca crônica, sugerimos que não assista ao espetáculo que logo começará!”. Os nossos corações foram a mil, contudo, sobrevivemos, afim de contarmos essa breve e emocionante história.

“As Últimas Flores do Jardim das Cerejeiras” é um espetáculo com fortes traços pós-dramáticos baseado na obra “O jardim das Cerejeiras”, do dramaturgo russo Anton Tchekov. O seu mote principal gira em torno dos conflitos sociais que marcaram a Rússia do final do século XIX. A pós-dramaticidade desse espetáculo deve-se, principalmente, ao deslocamento da relação dos atores com a platéia – que se encontra encerrada num cenário/labirinto e deve percorrer o espaço para acompanhar as ações cênicas -, à ausência de diálogos, à não-linearidade da narrativa, a simultaneidade e duplicidade de cenas e à utilização de uma multiplicidade de linguagens artísticas (vídeos, projeções, teatro de animação, música, dança, performance e artes plásticas), concomitantemente ao evento teatral, que extrapola o drama.

São vários os momentos que os espectadores presenciam ao longo de 50 minutos. Primeiramente, um grupo de carpideiras lamenta a morte de uma criança. Cena forte e impactante que desloca, num ritmo propositadamente repetitivo e alongado, o olhar dos espectadores. Em seguida, os Minotauros, símbolos de morte e de destruição, devoram suas vítimas  e espreitam, com seus olhos furiosos e suas mãos cortantes de facões, o público que os cercam. Mais adiante, homens e mulheres, como o Teseu de Ariadne, são lançados numa multiplicidade de encruzilhadas e de caminhos em busca dos próximos fios do espetáculo: projeções, fumaças, vídeos e/ou ainda sonoridades. Aliás, além do encontro com imagens dinâmicas, esse espetáculo proporciona ao público um grande choque de sensações. Num dos momentos mais primorosos da encenação o público dirige-se, espontaneamente, ao centro do labirinto, e com seus pés descalços produzem estouros de plásticos bolhas que, poeticamente, aludem ao som de gotas de chuva que regam e dão vida às cerejeiras. Finalmente, um grupo de gueixas desloca-se, sensual e misteriosamente, pelo labirinto. Como num passe de mágica elas surgem, com suas máscaras subjetivas, dançando e flutuando sobre os espectadores. Escadas constituem os fios que as conduzem pelos cantos superiores do cenário. Mais uma vez, o público é deslocado do seu conforto, sendo obrigado a olhar para os céus para acompanhar o desenrolar dos novelos. Este apelo estético, a introdução de gueixas num universo político-cultural russo, que poderia ser encarado como um anacronismo, “responde a uma proposta de humanização contra a barbárie de um mundo materialista e se instala como uma nova exigência para os tempos modernos” (citação retirada do programa do espetáculo).

Para encerrar, gostaria de deixar uma pequena sugestão ao grupo: para uma melhor apreciação desse belo espetáculo, talvez fosse melhor reduzir de 50 para 30 (ou ainda 20) o número de espectadores. Dessa forma teríamos um pouco mais de conforto e não perderíamos sequer nenhuma nuance desse magnífico trabalho.

Luciano Oliveira

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