Prostituição dos atores de Rondônia

Estamos nos prostituindo ao aceitarmos gravar propagandas por míseros R$ 100,00?

Sim, estamos.

E nos prostituímos também ao acreditarmos que é esse o valor que se pratica, comercialmente, no mundo profissional. Não sejamos ingênuos! As agências de publicidade rondonienses estão explorando o nosso trabalho. E não estariam elas enriquecendo-se com isso?

Sem querer atacar a profissão dos prostitutos, pois a prostituição é um trabalho honesto, assim como vários que temos notícia – muito mais digno, aliás, do que a carreira política brasileira; a comparação aqui feita é metafórica, no sentido simbólico do peso que a palavra prostituição tem para a nossa sociedade.

Então, não vendamos o nosso corpo-trabalho a preço de bananas. Não aceitemos as chantagens, a falta de profissionalismo e de respeito das agências publicitárias do nosso amado estado. Aprendamos a nos valorizar, pois, afinal de contas, somos dedicados, estudados e merecemos respeito e valorização profissional. Quantas vezes acordamos de madrugada para irmos ao trabalho e ensaiarmos os nossos espetáculos e ministrarmos nossas aulas? Sim, os grupos e escolas de teatro são instituições, locais sérios de labor. Assim como um médico e um advogado – profissionais considerados valorosos -, nós atores, atrizes, diretores, professores, técnicos, etc. temos que ser valorizados. Contudo, se não aprendermos a nos valorizar, quem o fará?

Utilizemos nossa inteligência e bom senso e façamos um cálculo matemático relativamente simples:

1- Quanto gastamos com nossa formação artística principal? Cursos de doutorado, mestrado, pós-graduação, graduação e técnico? Eu, particularmente, em vinte e três anos de estudos, gastei centenas de milhares de reais. E continuarei a gastar, pois nunca pararei de estudar. E você?

2- Que valor pagamos com nossa formação artística secundária? Entendo, por isso, as oficinas, cursos, workshop, etc., que participamos. E não se engane, haja vista tal formação nunca ser completamente de graça. Aliás, nada é de graça se pensarmos que temos que arcar com os custos de passagens, alimentação e materiais para estudo como, por exemplo, xérox.

Bem, se colocarmos em planilha “apenas” esses gastos já saberíamos que R$ 100,00 não pagam nem um minuto do nosso trabalho. E os demais custos? São muitos, não é mesmo? Então, por que aceitar trabalhar por essa vergonha de cachê?

Esse valor esdrúxulo deveria pagar unicamente o nosso cachê teste. Do que se trata isso? O tempo que dedicamos à prova para realizar uma propaganda: a saída de casa, a fila que permanecemos, o tempo de filmagem do piloto… Em Belo Horizonte, minha cidade de origem, o cachê teste, em agências sérias e profissionais, é de R$ 100,00. No Rio de Janeiro e São Paulo, cidades mais caras, o valor varia entre R$ 150,00 e R$ 200,00.

E quem define esse valor? Nós, a classe artística. Respaldados, é claro, pelo SATED (Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões) e pelas legislações trabalhistas brasileiras. A propósito, por onde andam os representantes do SATED-RO? O que têm feito tais representantes para defender as necessidades dos artistas locais? Quais normatizações são discutidas e aprovadas a fim de proteger os nossos interesses? Por que o SATED-RO não se manifesta sobre o vergonhoso valor que está sendo praticado aqui? E por qual motivo tal sindicato não se coloca em relação a muitos que estão fazendo propaganda e que nem artistas legalizados são? Você sabia que podemos exigir isso do SATED-RO? Ao menos sabe que a sede desse sindicato, conforme consta na página https://www.facebook.com/pages/Sated-RO/235776209888109 , está no endereço apontado?

E se o cachê teste custaria por volta de cem reais, quanto cobrar por uma propaganda vinculada em uma grande rede de televisão?

Isso varia. Difere por diversas razões: pela duração do tempo de veiculação da propaganda e pelas plataformas (tv, rádio, vídeo, internet, revistas, etc) que serão veiculadas; pela duração da própria propaganda (um minuto? Dois?); pelo tempo que você gastou para gravar a propaganda; pelos locais onde serão divulgadas (cidades, estados e países); pela marca que será divulgada (uma coisa é gravar um vídeo promocional para a Coca-Cola, outra é participar de um vídeo de uma marca de refrigerantes local!); pelo valor da sua imagem (lembre-se de quanto tempo você estudou e de quanto gastou para se formar!).

Passemos a alguns exemplos, levando-se em consideração uma propaganda para uma empresa de pequeno a médio porte:

1- Se você é ator iniciante, e legalizado pelo SATED-RO, não aceite gravar uma propaganda de um minuto por menos de R$ 500,00;

2- Se você já tem um pouco de experiência, pois estuda Teatro na UNIR (e em outros lugares sérios) e faz parte de grupos de teatro em Rondônia, um minuto do seu trabalho não vale menos que R$ 800,00;

3- Se é estudante mais avançado, por exemplo, cursando o 7º período do Curso de Teatro da conceituada Universidade Federal de Rondônia, não grave por menos de R$1000,00;

4- Se é estudante e premiado em festivais de teatro, a figura muda um pouco: aumente quinhentos reais em seu cachê;

5- Se já se formou, peça mais quinhentos. Ou seja: R$ 2000,00;

6- Se já tem especialização, um pouco mais: R$ 2500,00;

7- Mestrado? R$ 3500,00;

8- Doutorado? No mínimo R$ 5000,00.

Ah, você é famoso? Então, possivelmente, quererão pagar a você uma fortuna. Cobre o quanto vale!!!

Para finalizar, valorize-se! Não aceite ganhar menos que você merece. Não trabalhe sem contrato. Cobre do SATED-RO a verdadeira atuação de um sindicato. Denuncie ao SATED-RO irregularidades que perceber, tal como um não-ator fazendo uma propaganda como se fosse ator. Esse não-profissional está ocupando o lugar que deveria ser seu por direito!

Não se prostitua! Não venda seu corpo-trabalho às agências de publicidade de Rondônia!

2 comentários em “Prostituição dos atores de Rondônia

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  1. Professor…
    Corroboro com sua feliz colocação, pois nosso grupo há muito tempo bate nessa tecla do artista se valorizar, contudo o artista precisa ver o mercado do teatro como profissão.
    Muitos artistas ainda vêem esse mercado como status e se auto desvalorizam e consequentemente quebram o mercado.
    Temos que ser profissionais…
    Excelente provocação.

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  2. Excelente esclarecimento, principalmente pra quem está começando na área.
    E reforço, como citado, os órgãos fiscalizadores tem que atuarem mais e exigindo profissionais da área para o trabalho.

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