Às vezes, ao assistir um espetáculo, fica uma dúvida: o trabalho que é frágil ou o lugar onde é apresentado que não oferece as condições necessárias para a sua realização?
“Tango Nuestro Baile”, espetáculo de dança dirigido pelo bailarino argentino Navir Salas Morales, que está sendo apresentado na 40ª Campanha de Popularização do Teatro e da Dança de Belo Horizonte, tem todos os ingredientes de um bom trabalho. Contudo, o “Teatro” do Colégio Arnaldo não oferece condições para que isso aconteça. Isso porque não é um teatro, mas sim um auditório que tem péssima acústica e equipamentos obsoletos. Resguardada a boa vontade dos técnicos da casa, a escolha desse espaço pelos coordenadores da Campanha não foi muito feliz.
Começando pela plateia: as primeiras fileiras tem inclinação ao contrário. Isso quer dizer que os espectadores da frente estão num plano mais elevado do que os de trás. Para pessoas mais baixinhas, esse não é o meu caso, resta a possibilidade de assistir a belos bailarinos dos joelhos para cima. Tal fato para um espetáculo de tango é um pecado, pois os movimentos dos pés são imprescindíveis para a estética de tão charmosa dança.
Em relação ao equipamento de luz, para ser bem iluminado, “Tango Nuestro Baile” precisaria de no mínimo 80 refletores de qualidade, uma mesa de última geração e um técnico que saiba utilizá-la. Pergunto-me se no auditório referido tem vinte refletores. Uma luz chapada, principalmente vermelha e amarela, além de borrar os vistosos figurinos, empobrece o visual do espetáculo. São várias as transições de coreografias e de cenas propostas pela direção. Cada uma delas merece uma transição de luz tão bonita e impactante quanto às atmosferas e climas buscados. Os bailarinos e bailarinas se esforçam em suas incríveis interpretações, são charmosos (as), elegantes e muito bonitos (as). Porém, uma luz inadequada é como uma excelente maquiagem borrada após lágrimas de tristeza. Além de comprometer a visibilidade e sujar os figurinos, a iluminação não valoriza o cenário, impossibilitando a criação de perspectivas em um painel de tecido também chapado.
O equipamento de som é um verdadeiro horror. Pobre do jovem cantor que tem voz linda, bem articulada, espanhol fluente e notas bem colocadas. As caixas de som, o microfone e o leitor de CD dificultam em muito a missão desse jovem e promissor artista. A acústica do espaço também não ajuda muito. Aliás, pergunto-me se havia apenas um técnico para operar a luz e o som, pois a sonoplastia e a iluminação quase não se encontravam. Quando não era o “black out” que durava uma eternidade, provocando risos na plateia, eram as longas pausas na trilha que condenavam os bailarinos a congelaram-se ad infinutum em suas posições de partida, constrangendo-os. Stops e starts nas músicas em momentos incorretos comprometeram o tempo-ritmo das coreografias. Mas, não podemos crucificar o padre quando é a hóstia que está vencida.
Um parêntese e mais um ponto importante: cabe ao diretor dar acabamento a um espetáculo. É o que chamamos de limpeza e afinação. É muito difícil fazer isso de dentro da cena. No caso específico da dança, quando o diretor também é bailarino. Limpeza da cena: braços, mãos e pés que sobram nos bastidores, por exemplo. Afinação: de luz, de som, de cenário, de figurino, enfim, de todos os elementos visuais e acústicos de uma encenação. Para uma canção executada ao vivo é fundamental que microfone, mesa e caixas de som estejam equalizadas.
Por fim, um local adequado é essencial para o sucesso de um trabalho. Essa máxima não se aplica ao auditório do Colégio Arnaldo, mesmo sendo um bem tombado como patrimônio municipal. Cabe à organização do evento dar condições iguais a todos os espetáculos de dança e de teatro da grade de programação da Campanha, para que possam ser bem apresentados ao público que vão às casas teatrais e espaços culturais belorizontinos, valorizando assim o nosso teatro e nossa dança, bem como os nossos artistas que já são tão maltratados financeiramente. E cabe à produção de um grupo não aceitar tão más condições.
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