Fotos de Bárbara Tagliani da apresentação do dia 06/11/2018 – IV Festival Unir Arte e Cultura.
Começou o Palco Giratório 2018 – RO
No feriado de 7 de setembro, sexta-feira, iniciou-se em Rondônia a edição 2018 do Palco Giratório, com o Seminário Palco Giratório 2018 – Arte como (Re) Existência.
Artistas, grupos de teatro (Trupe dos Conspiradores, Teatro Ruante, O Imaginário – RO, Wankabuki e Associação Cultural Waraji, dentre outros), professores universitários (UNIR, UFAC e UFPA), alunos, curadores e funcionários do SESC de diversas partes do país, representantes de movimentos sociais e culturais (Coletivo Mina Livre, Setorial de Teatro de Porto Velho, Pró-Cultura Rondônia e #depositaSejucel) e da sociedade civil de Rondônia – e até mesmo crianças – estiveram presentes no Teatro 1 do SESC Esplanada para participar das excelentes mesas de debates realizadas nas tardes e noites de sexta-feira e sábado.
No dia 07/09, de 15h às 16h30, a Mesa 1 – Gestão Cultural na Contemporaneidade: como gerir garantindo a arte o lugar de (Re) Existir? – abriu as sessões de debates com os convidados Daina Leyton, de São Paulo, José Manuel, do SESC Pernambuco, e Keila Barbosa, de Rondônia. A mediação ficou a cargo de Raphael Vianna, do SESC – DN.
Mais tarde, de 17h às 18h30, foi a vez da Mesa 2 – Acessibilidade Cultural: pulverizando as ações em arte, com os convidados Rita Marize, do Sesc Pernambuco, e Suzi Bianchi, do Rio de Janeiro. A mediação foi de José Manuel, do Sesc Pernambuco.
Por fim, e não menos importante, a Mesa 3 – Novos Olhares para a dança na Amazônia, fechou o ciclo de debates do primeiro dia de seminário. Dessa mesa participaram a professora Valeska Alvim, da Universidade Federal do Acre (UFAC), o professor Luiz Lerro, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR) e a professora Waldete Brito, se não me engano da Universidade Federal do Pará (UFPA). No meio da numerosa plateia, que fazia uma grande festa para receber os convidados, encontravam-se alunos e integrantes do projeto Mediação Cultural – Palco Giratório 2018, que é coordenado pelo professor Júnior Lopes do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIR.
O primeiro dia de debates foi muito proveitoso, rico e culturalmente intenso.
No sábado, no dia 08/09, entre 16h e 17h30, também no Teatro 1 do SESC, ocorreu a Mesa 4, com o tema mais que relevante e necessário “O protagonismo feminino na arte”. Para compor a mesa foram convidadas as palhaças Selma Pavanelli, de Rondônia, e Mariana Gabriel, de São Paulo, ademais da professora e bailarina Waldete Brito, do Pará. A mediação foi de Jane Schoninger, do SESC Rio Grande do Sul.
E para encerrar o Seminário Palco Giratório 2018 – Arte como (Re) Existência, aconteceu a Mesa 5 – Festivais de Teatro Independentes: Mapeando Rondônia, com a presença de Valdete Souza, de Vilhena/RO, uma das coordenadoras do Festival Amazônico de Monólogos e Breves Cenas; de Paulo Santos, de Guajará-Mirim/RO, um dos coordenadores do Festin-Açu (Festival Internacional de Teatro de Guajará-Mirim); e de Chicão Santos, de Porto Velho, um dos coordenadores do Festival Amazônia Encena na Rua. A mediação dessa mesa foi de Clarissa Franci, do Sesc Pará.
Assim como o primeiro dia de debates, o segundo também foi muito farto e profícuo. E mais: muito importante para a classe artística do Estado de Rondônia, que carece de efetivas políticas públicas nas áreas de Arte e Cultura e da representatividade feminina.
A programação artística do Palco Giratório de Rondônia começa hoje, às 17 h, na Lona do Palhaço Biribinha (Parque da Cidade), com o espetáculo de circo Magia, da Companhia Teatral Turma do Biribinha, de Alagoas.
Crédito: Foto de Eliane Viana (Agenda Porto Velho).
Quando ensinar se torna uma paixão!
Há quatro anos estou em Porto Velho ensinando Teatro na Universidade Federal de Rondônia (UNIR). A cada dia que passa descubro novas técnicas e metodologias de ensino que me fazem aproximar afetivamente ainda mais dos meus alunos. Os aprendizados e trocas, em todos os sentidos, são constantes. Por vezes somos “desarmados” por aqueles que, teoricamente, seriam as partes frágeis da relação aluno-professor. Então, a fragilidade se inverte!
Neste semestre (2018/1) estão sendo muitas as surpresas. E a turma do primeiro período é uma delas. Falante, desconcentrada e ingênua são alguns dos adjetivos que acreditei caracterizar tal turma. Ledo engano! Tais características, hoje, terminada a disciplina Laboratório de Improvisação Teatral 1, mostram que tudo não passava de euforia, ânimo, alegria e vontade dos jovens estudantes de estarem cursando Teatro na UNIR. Quiçá a realização de um sonho!
Jovens? Nem tanto, mestre! Nas palavras de Dennis Weber, ele “era o tio da sala, a anciã, a idosa, como mais tarde me chamariam os colegas, hehehehe”. Mais velho que ele, somente eu. Esse aluno trouxe para turma a experiência profissional adquirida no Grupo de Teatro Wankabuki, de Vilhena, e também como jornalista do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Rondônia (IFRO), de Porto Velho. Porém, devido a “idade avançada”, ele sofreu um acidente quando ensaiava para uma prova prática da disciplina Expressão Corporal 1, ministrada pelo professor Luiz Lerro, fraturou um dos pés, e foi “cortado” de última hora da Cena Final da minha disciplina. Em ano de Copa do Mundo, querido Dennis, isso, infelizmente, não pode acontecer! Tamanha foi a tristeza dele, e da turma – e minha também, pois tive que substituí-lo na “curingagem” da cena de Teatro-Fórum que começou a surgir no seminário do grupo que ele participava, como veremos mais adiante, por meio das suas próprias palavras – que tive que propor um desafio a ele. Foi mais ou menos assim: “- Se você escrever um texto sobre o segundo seminário da minha disciplina e ele ficar a contento, o publico em meu blog em homenagem a você e à turma”. Desafio aceito pelo aluno e muito bem realizado. Sendo assim, cumpro a minha promessa.
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“Avaliação Final – Relatório sobre a apresentação do 2°Seminário da Disciplina
O tema escolhido para este seminário foi o Teatro do Oprimido de Augusto Boal. A turma foi dividida em três equipes que deveriam pesquisar sobre: 1) Arsenal de jogos teatrais; 2) Teatro-imagem; 3) Teatro-fórum. A data escolhida para a apresentação foi o dia 19 de abril. Os grupos deveriam apresentar as técnicas utilizadas em cada um dos métodos apresentados por Augusto Boal, destacados para esta segunda avaliação.
O primeiro grupo, composto por Flávia, Dalvan e Emerson, desenvolveu junto aos outros colegas de classe jogos teatrais que tiveram como objetivo aquecer os corpos dos jogadores, além de estimular a criatividade e a desinibição. Antes da aplicação dos jogos, os integrantes do grupo apresentaram uma pequena biografia do autor, destacando suas obras e contribuições para o ensino e pesquisa de teatro. Entre os jogos do arsenal de Boal estavam “Círculo Máximo e círculo mínimo”, “dividir o movimento” e “dança da maçã”.
O primeiro jogo consistia na formação de uma grande roda, em que os participantes deveriam, através das forças de seus braços, esticarem e se sustentarem através desta tensão, criando a imagem, que no meu ponto de vista, parecia uma flor desabrochada. Já o segundo jogo cobrava dos jogadores que os mesmos criassem um movimento que deveria ser replicado pelos demais jogadores. No terceiro jogo, duplas de jogadores deveriam dançar com uma maçã ligando os dois corpos, sem que as mãos tocassem a maçã, que no caso foi substituída por um balão.
O segundo grupo composto por Jonathan, Vinícius e Pandora ficou responsável por desenvolver os jogos propostos no Teatro-Imagem. Antes disso, os participantes da equipe explicaram as origens do método, além de realizarem uma apresentação modelo do Teatro-Imagem.
Após a parte teórica, os outros alunos da classe sortearam o tema “machismo”. Dois jogadores entraram em cena e ficaram imóveis como massas de modelar. Os demais jogadores, um de cada vez, entravam em cena e modelavam as duas massas com o intuito de transformá-las em uma representação “real” do que seria uma situação de machismo. Ao final, o personagem masculino apontava com autoritarismo para a personagem feminina, que varria o chão. Após esse primeiro momento, os jogadores deveriam transformar essa imagem “real” em uma imagem “ideal”. Nessa perspectiva, os participantes moldaram um casal apaixonado, sentado no chão e de mãos dadas. Percebi que os colegas da turma tiveram certa dificuldade para entender a proposta do jogo, fato que confirmei na segunda sessão do Teatro-Imagem.
O tema da segunda rodada foi “homofobia”. Em cena Rafael e Amanda, um representando o oprimido e o outro o opressor, respectivamente. Nessa nova situação, os jogadores moldadores demoraram a construir tanto a cena real quanto a ideal. Além disso, alguns desrespeitaram as regras do jogo, como a de fazer apenas um movimento nas massas. Na última sessão, todos os jogadores viraram massa e, ao comando dos representantes do grupo, construíram uma imagem, a partir da palavra “violência”.
Por fim, apresentamos nosso tema: o Teatro-fórum. O grupo, composto por Alexia, Amanda, Rafael e eu, se reuniu fisicamente três vezes para estudo e elaboração das propostas de atividades para o seminário. Lemos o livro “Arco-íris do desejo” de Augusto Boal, com o qual foi possível identificar as características do Teatro-Fórum. Além disso, pesquisamos artigos científicos na internet e vídeos com exemplos de cenas realizadas a partir do Teatro-Fórum. Com essa carga de material, construímos nosso resumo sobre o assunto para situar o restante dos colegas de classe durante nossa apresentação. No resumo destacamos as funções do Teatro-Fórum, a importância dos espect-atores e também do curinga, ressaltando a função social deste tipo de proposta e do seu poder transformador da realidade, uma vez que coloca a plateia em cena para resolver um problema.
Elaboramos também dois roteiros de cenas que poderiam ser abordadas na parte prática do seminário. Uma delas tinha como tema a “homofobia” e a outra “violência doméstica”. A escolha dos temas se deu por aproximação da realidade de muitos colegas de classe. Adorei essa parte do trabalho, pois amo contar histórias e esse momento exigiu muito da nossa criatividade: pensamos nas variantes que a história poderia ter. Segue a sinopse da primeira cena, intitulada “O que eu fiz para merecer isto?”:
“No ano de 2020, após elegerem Temenaro como presidente do Brasil, inicia-se uma caçada aos homossexuais, bissexuais e todos que fogem aos padrões heteronormativos. Muitas famílias são estimuladas, através de recompensas, a entregarem familiares que apresentem condutas suspeitas. Nossa cena se passa em uma casa de família onde uma mãe telefona secretamente para a polícia, enquanto o filho está na sala lendo um livro.”
A partir desta sinopse definimos que Amanda seria o filho gay, Alexia seria a mãe, Rafael seria o policial e eu seria o curinga, aquele que estimula a plateia a entrar em cena, propõe novos caminhos para a narrativa e estabelece algumas regras no jogo.
Na outra cena, intitulada “O segredo dos seus olhos”, chegamos à seguinte sinopse:
Um casal discute por ciúmes. O namorado expulsa Flávia de casa e a jovem liga para a amiga Pandora para conversar sobre o ocorrido. As amigas se encontram em uma praça e são seguidas por Jonatan. O namorado começa a discutir com as duas ameaçando bater nas mulheres.
Os papéis foram distribuídos da seguinte forma: Alexia faria a namorada, Amanda seria a amiga Pandora, Rafael seria o curinga e eu interpretaria o namorado agressor.
Repassamos as cenas algumas vezes até o ponto de virada das tramas e seguimos para nossa apresentação. Conseguimos desenvolver somente a primeira proposta, visto que investigamos várias maneiras de intervir na trama. Dos alunos que estavam na plateia, somente Flávia, Emerson e Vinícius, entraram em cena como espect-atores.
Os demais não reagiram às opressões apresentadas em cena. Flávia ocupou o lugar do policial, apresentando um agente mais humano, que considerou como louca a mãe que estava delatando o filho. Já Emerson ocupou o lugar do filho, e apresentou um jovem decidido sobre sua sexualidade, interrogando a mãe sobre sua capacidade de não sentir compaixão pelo próprio filho. Vinícius entrou em cena em duas ocasiões: uma como filho revoltado e assumido e a outra como mãe conciliadora.
Percebendo que a trama já não estava andando, entrei em cena e apresentei uma nova versão do personagem “filho” que, desta vez, questionou as sexualidades da mãe e do policial, saindo da condição de oprimido para opressor. A partir desses novos elementos narrativos foi possível se chegar a um acordo, com a mãe dispensando o policial e tendo uma conversa mais sincera com o filho.
Durante o desenrolar da cena, percebi muita tensão na plateia. Alguns dos colegas estavam até emocionados, pois provavelmente viveram ou presenciaram a opressão representada. No círculo de avaliação do seminário perguntei para Pandora e Jonathan porque eles não entraram em cena. Pandora disse que ficou sem reação diante do que estava vendo. Já Jonathan disse que aquela realidade apresentada não tinha relação com o seu cotidiano. Mais tarde Emerson veio me confidenciar que a história mexeu muito com ele, por ter passado situação semelhante em casa.
Posso afirmar que me senti confortável na condição de curinga, mas o fato da plateia interagir pouco me deixou inseguro. Estar em cena foi desafiador, mas ao mesmo tempo, revigorante. Virar o jogo, mostrar outros caminhos para a narrativa sempre é estimulante. Uma experiência que vou guardar para o resto da vida!” (Dennis Weberton Vendruscolo Gonçalves).
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Como não se apaixonar pelos alunos quando eles nos surpreendem? Quando ensinar se torna uma paixão, a saudade da família, dos amigos e de Minas Gerais machuca menos!
A seguir, apresento um trechinho do vídeo do aquecimento para a Cena Final (Teatro-Fórum), bem como fotos dessa cena, da qual o aluno Dennis não pode participar por motivo de afastamento médico:
Fotos e vídeos de Junior Lopes.
Haja feijoada pra tanta indigestão! Dança-teatro em Porto Velho
Ontem, 23 de novembro, no Teatro 1 do SESC Esplanada de Porto Velho, iniciou-se a Mostra de Danças SESC 2017.
Após três apresentações infanto-juvenis, pelas quais os pais quase sofreram um treco de tanto gritar e aplaudir, eis que “insurge” uma coisa que “destoou” completamente do que até naquele momento acontecera.
Assim perguntou uma criança sentada numa poltrona atrás da minha:
– “Papai, o que está acontecendo?”.
– “Eles estão passando mal!”, explicou ironicamente o pai.
– “Por que, papai?”.
– “Porque eles comeram muita feijoada antes da apresentação!”.
– “Entendi!”, respondeu a inquieta menina.
Os atores-dançarinos, que se vestiam tão “estranhamente” (“muitos deles com trajes árabes”, disse uma espectadora mal humorada sentada ao meu lado), e que dançavam e “teatravam” músicas ainda mais esquisitas – “dissonantes”, disse-me o professor Dr. Luiz Lerro e coordenador do Curso de Extensão Dança-Teatro -, passavam mal no palco de tanto comerem feijoada de paixão, de tanto deglutirem couve de tesão e de tanto ingerirem coca-cola (ou cachaça?) do alabão! (Esta rima pobre e sem sentido é proposital, pois não encontrei nenhuma palavra boa que rime com tesão e paixão e que expresse adequadamente o meu sentimento diante de tanta hipocrisia e ignorância!). Continuando: “estrebuchando” ali no chão, sob os olhares medievais de boa parte da plateia atônita, um grupo de pessoas completamente heterogêneo (estudantes de teatro, bailarinos, bailarinas, homens e mulheres comuns, heterossexuais, homossexuais, jovens, idosos, etc.) entregavam-se de corpo e alma à tão misteriosa (para uma parte expressiva do público ali presente, quiçá para o público geral de Porto Velho!) Dança-Teatro.
– “O que está acontecendo agora, papai?”, pergunta novamente a criança.
– “Eles estão saindo do palco!”, responde o pai.
– “Por quê”?
– “Para tomar remédio”, finaliza la cu nar mente o pai que não tinha mais nada para passar para a sua pobre criança.
E assim o Temer continua no poder!
Rondônia: um Estado de Delícias Culinárias
“Rondônia: um Estado de Delícias Culinárias” trata-se de um documentário de cinco minutos produzido por Luciano Oliveira e Júnior Lopes (professores do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIR) e Ivan Souza (publicitário, jornalista e comunicador social de Porto Velho), com participação de discentes do mencionado curso, bem como de artistas e de pessoas da comunidade portovelhense, para ser exibido na Feira Cultural Brasil & Estados Unidos: the best of Brazil and USA, ocorrida em Framingham, Massachusetts, entre os dias 02 e 06 de novembro de 2017. Ele foi exibido também no III Festival UNIR Arte e Cultura, em Porto Velho. Por meio da comicidade e de improvisações dos atores, conta a história de Cassandra Baby, uma mulher de Guajará Mirim, cidade do interior de Rondônia, que vem para a capital em busca de ingredientes para preparar um “banquete” para seu “boy”, um pretendente amoroso italiano que conhecera em um aplicativo de relacionamentos. Cassandra Baby é uma personagem do espetáculo teatral “Cassandra, BR-trans-amazônica”, montado pelo ator Júnior Lopes, e estreado em agosto deste ano.
– Direção Geral e Cinegrafista: Ivan Souza
– Roteiro e direção de elenco: Luciano Oliveira
– Atuação: Junior Lopes
– Elenco de apoio: Ádamo Teixeira, Jamile Soares, Stephanie Caroline, Gabriel Corvalan, Jaqueline Luquesi, Sheila Souza, Lia Assunção, Guilherme Ferreira, Flaw Naje e Verônica Brasil
– Figurino: Junior Lopes
– Cabelo e maquiagem: Jaqueline Luquesi
– Assistente de maquiagem: Sheila Souza
– Edição (tradução de legenda): Verônica Brasil
– Edição de Imagens: Jéferson Dino
– Produção: Flaw Naje
– Apoio Técnico e Assessoria de Imprensa: Emanuel Jadir Siqueira
Agradecimentos: Ronildo Chaves (Kamilly Panificadora e Confeitaria); Paky’Op (Laboratório de Pesquisa em Teatro e Transculturalidade – UNIR); Luciano Pinheiro e Vanderlei Júnior (pela liberação da música Pra Porto Velho Eu Vou); Ulisses Ferreira (bebezinho); Antonha Cristina Fontinele (Barraca da Cristina); Sr. Nilson (O Rei do Açaí); Sr. Severino; Dona Mimozete; Reinaldo Ribeiro; Cleomar Mendonça e Jonisson (Barraca Rei da Goma); Dona Francisca; Dona Izabel Araújo; Rodrigo Anconi; Denilson; Eberson e Vanessa Cristina (Barraca da Cris).
APOIO: Kamilly Panificadora e Confeitaria
Música: Pra Porto Velho Eu Vou! (Composição, Letra e Música: Luciano Pinheiro e Vanderlei Júnior)
Crônicas de um festival
Durante os dias 21 e 27 de outubro de 2017 aconteceu, em Porto Velho, Cacoal, Rolim de Moura, Guajará-Mirim, Ji-Paraná e Vilhena o III Festival Unir Arte e Cultura da Fundação Universidade Federal de Rondônia. Tal festival é uma ação da Pró-Reitoria de Cultura, Extensão e Assuntos Estudantis dessa universidade e tem como coordenadora geral a Pró-Reitora Marcelle Regina Pereira. Eu sou o Coordenador do Eixo Circo/Teatro/Dança de Porto Velho. Além disso, enquanto artista e escritor/pesquisador, contribuí com diversas atividades culturais. Gostaria, neste post, de relatar e analisar criticamente algumas delas.
Para a abertura do evento, ocorrida no Teatro Guaporé, com a preciosa contribuição do iluminador Edmar Leite e do Coordenador de Eixo Música Márcio dos Anjos, o trabalho realizado foi a direção de palco dos shows e concertos musicais apresentados. Das 08:00 às 22:00 hs concentramos nossos esforços para que a iluminação e a entrada e saída de artistas do palco fosse harmoniosa e precisa. Contudo, a primeira apresentação artística do festival aconteceu no Saguão do Teatro. Trata-se de “Das Dores”, teatro performativo desenvolvido pela atriz/performer Taiane Sales, sob minha direção artística e orientação acadêmica, pois esse espetáculo é o Trabalho de Conclusão de Curso da aluna defendido junto ao Curso de Licenciatura em Teatro da UNIR. Concentrada e emocionada, a aluna-atriz realizou uma das suas melhores apresentações. O público se emocionou com a história de “Das Dores”, que figura e apresenta variados tipos de violências pelas quais passam as mulheres.

Já no dia seguinte, domingo, além de “Das Dores”, foram apresentadas ainda, no CEU (Centro de Artes e Esportes Unificados) Zona Leste, a performance “Pela Pele da Mulher”, da atriz e performer Jaqueline Luquesi, sob direção de Taiane Sales, e “O Poder do Mosquito na Sociedade”. Este último é um mini espetáculo de Lambe-Lambe, voltado para crianças e adultos, de Vavá de Castro (Tia Vavá dos Bonecos), apresentado como Trabalho de Conclusão de Curso, sob minha orientação, para o encerramento do Curso de Teatro da UNIR. O público para essas apresentações foi pequeno, mas importante, pois sempre digo aos meus alunos que a quantidade de espectadores não pode influenciar na qualidade da execução artística da obra apresentada. E foi isto que aconteceu: tanto Taiane como Jaqueline e Vavá se entregaram de corpo e alma ao seu público. Aliás, aproveito o momento para agradecer a todos os monitores que acompanharam as atividades do dia, em especial a Edmar Leite (que cuidou, sozinho, da iluminação!), Victor, Ádamo Teixeira e Stéphanie Santos. Um muito obrigado também ao Jacim, coordenador do CEU, que, juntamente com toda a equipe, nos recebeu com muito carinho e profissionalismo.


Ainda no domingo, porém, no período noturno, realizei o lançamento de dois livros no SESC Esplanada: “Representações Culturais no Giramundo Teatro de Bonecos” e “Eid Ribeiro e o Armatrux em Processo: o objeto flutuante entre a poética e a estética teatral”. O primeiro é resultante da minha pesquisa de mestrado. Já o segundo da minha pesquisa de doutorado. Ambas realizadas no Programa de Pós-graduação em Teatro da Universidade do Estado de Santa Catarina, sob orientação de José Ronaldo Faleiro (e coorientação de Vera Colaço) e Brígida Miranda (e coorientação de Wagner Cintra), respectivamente.
Saindo um pouquinho do Eixo Artes Cênicas, e adentrando o Eixo Audiovisual, na segunda-feira, 23/10/17, foi exibido o documentário “Rondônia: um Estado de Delícias Culinárias”. Para este trabalho escrevi o roteiro e fiz a direção de atuação. A direção geral foi de Ivan Souza. Protagonizando o documentário encontra-se Cassandra, personagem do espetáculo “Cassandra, BR-trans-amazônica”, interpretada pelo ator Junior Lopes. Muitos alunos do Curso de Licenciatura em Teatro da UNIR participaram como elenco de apoio. Enfim, trata-se do meu primeiro documentário enquanto roteirista e diretor. Foi muito prazeroso participar do processo de gravação desse trabalho, que será exibido também nos Estados Unidos, em Framingham, dentro da programação da “Feira Cultural Brasil & Estados Unidos: the Best of Brazil and USA”.

Voltando às Artes Cênicas, na terça-feira, 24/10/17, na Sala do Piano da UNIR Centro, aconteceram três apresentações: A Velhinha que Dava Nome às Coisas, com encenação de Vavá de Castro e atuação de Téo Nascimento; La, espetáculo de dança contemporânea do Coletivo Aurora; e um Ensaio Aberto de “Inimigos do Povo”, da Trupe dos Conspiradores, sob minha encenação. O primeiro trabalho, uma cena curta, criado nas disciplinas de encenação do Curso de Teatro da UNIR, das quais sou professor, tem ganhado asas e voado lindamente. A encenação de Vavá de Castro está cada vez mais madura e a atuação de Teo Nascimento ainda mais delicada e humana. A boa notícia é que as duas artistas resolveram transformar a cena curta em um espetáculo e agraciar o público de Porto Velho, e quiçá o de Rondônia e do Brasil, com reflexões acerca da terceira idade, dentre outras temáticas.
Teo Nascimento em A Velhinha que dava nome às coisas. Encenação: Vavá de Castro. Foto sem referência a autoria.
La é um interessantíssimo espetáculo de dança contemporânea em processo de criação. O Coletivo Aurora (de Porto Velho, já que existem outros de mesmo nome espalhados pelo Brasil), que tem entre os seus membros as dançarinas Andréa Melo, Aline Monteiro e Rebeca Moriae, coloca em cena corpos femininos decididos, independentes, belos e resistentes. A temática feminista dá o tom (preto, branco e vermelho) do espetáculo!
O último trabalho apresentado na terça-feira foi o ensaio aberto de Inimigos do Povo, da Trupe dos Conspiradores. Como o espetáculo de dança La, esse espetáculo teatral também está em processo de gestação e conta com a contribuição de diversos artistas de Porto Velho. A saber:
Encenação e dramaturgismo – Luciano Oliveira
Assistência de Encenação – Sheila Souza
Direção e produção de vídeo – Ivan Souza
Cenografia – Elcias Villar
Indumentária – Selma Pavanelli
Produção – Flaw Naje
Iluminação – Edmar Leite
Preparação Corporal – Luiz Lerro
Diagramação: Leandro Almeida
Elenco: Ádamo Teixeira, Andrelina Lúcia de Paiva, Enderson Vasconcelos, Jamile Pereira Soares, Stephanie Dantas e Vavá de Castro.
A Trupe dos Conspiradores está montando, há oito meses, Inimigos do Povo, espetáculo de estética contemporânea livremente inspirado na obra Um Inimigo do Povo, de Henrik Ibsen, que trata do conflito existente entre o indivíduo, o Dr. Stockmann, e a coletividade, a população de uma pequena cidade-balneário da Noruega, que transforma o único médico local em um inimigo do povo. Isso por acreditar que as águas que serviam os banhos públicos, fonte de riqueza para toda a cidade, estavam contaminadas. O médico se sente na obrigação de propagar a verdade. Todavia, a sua denúncia, a ser publicada em forma de carta no “Jornal A Voz do Povo”, poderá fechar o balneário por dois anos. O lucro da população com o turismo, principalmente o dos poderosos, estaria comprometido. Porém, não denunciar o fato vai contra as suas aspirações. A poluição das águas é uma metáfora para denunciar a sujeira na estrutura social daquela cidade. A teimosia do Dr. em fazer triunfar a verdade faz dele uma pessoa não grata, ainda mais após dizer que os valores da cidade estão amparados na mentira e de afirmar que o povo, ao contrário do que diz o senso comum, não tem a razão. Ele se torna um inimigo do povo, vítima da maioria e da unanimidade.
A montagem que propomos, além das temáticas notadas no texto de Ibsen, desenha um paralelo com a atual situação político-econômico-social brasileira. De modo parecido ao que pensava Brecht, teatrólogo alemão, cremos que o teatro diverte e faz o espectador refletir, criticar e mudar a realidade social da qual integra. Nesse sentido, o teatro se faz urgente e necessário!
Na quarta-feira, 25/10, “O Poder do Mosquito na Sociedade”, de Vavá de Castro, foi apresentado na Laio Escola de Música (Zona Sul da capital). E, no dia seguinte, se não fosse a agressividade e grosseria de um sujeito mal educado, que expulsou todos os artistas e o público que estava no local, baixando, antes do horário, as portas metálicas do mercado, o Teatro Lambe-Lambe de Tia Vavá dos Bonecos também aconteceria no Mercado Cultural.
Por fim, e não menos importante, uma apresentação surpresa, na quarta-feira, da performance/instalação “Quem?”, encenada por Andrelina Paiva e performada por Sheila Souza, no Museu da Memória Rondoniense. Pelo fato do trabalho ter agradado tanto à coordenação do Museu, em especial à Ednair Rodrigues (a quem muito agradecemos!), fomos convidados a apresentar mais duas vezes lá: na quinta e sexta-feira, dias 26 e 27 de outubro. Uma plateia escolar de adolescentes animou, no último dia, a apresentação da intrigante “Quem?”.





