Aos 5 de agosto de 2012, assisti ao espetáculo “Um Sonho de Cordel”, do Grupo de Teatro Macacos Bêbados – Teatro Universitário da UFMG. O mesmo ocorreu na Praça dos Fundadores (ou praça das cabeças), no Parque Municipal de Belo Horizonte.
O parque estava repleto de pessoas felizes, principalmente pais com suas crianças serelepes. E foi no intuito de atraí-las para a apresentação, que ocorreu um cortejo muito animado dos personagens pelos principais caminhos do verde e iluminado parque. Não senti o tempo passar, haja vista o clima gostoso que foi instaurado pela trupe. Mas acredito que a passeata durou cerca de 40 minutos. Em hipótese nenhuma isto é um desmérito, muito pelo contrário.
Ao voltarmos à Praça dos Fundadores, uma plateia maior se formou. Nos dispusemos em círculo (teatro de arena). Aliás, esse tipo de disposição dita uma estética específica para um espetáculo teatral, em que os artistas devem jogar com todo o público que o cerca. Nesse sentido o trabalho foi um pouco falho! Talvez isso se deva à pouca idade dos atores e atrizes (lembro os leitores que são alunos do 1º Ano do Curso Técnico em Teatro do TU). Uma outra questão relevante para essa pequena falha foi a colocação de uma câmera filmadora na parte da frente das “cabeças dos fundadores”. O grupo estava gravando o trabalho para inscrevê-lo no FETO (Festival Estudantil de Teatro de BH). Isso condicionou a interpretação à frontalidade, ou seja, à estética do palco italiano. Assim, tomando o cordel como uma das mais importantes formas de manifestação cultural do Brasil, e que se passa junto ao povo, e que é feita pelo povo para o povo, faz-se importante uma reflexão sobre essa disposição frontal da cena. Ela foi proposital?
Fernando Limoeiro, o criativo diretor do trabalho, possui um trabalho muito forte e interessante com diversos tipos de manifestações artísticas populares, principalmente com o Mamulengo do nordeste brasileiro. Isso contribuiu em muito para as cores, para a alegria, para o jeito descontraído e para o ritmo gostoso do espetáculo. Os cordéis que são narrados e interpretados pelo grupo teatral são uma delícia para os ouvidos. Mas, é necessário cuidado com as palavras difíceis e velozes dos cordéis. Em certos momentos, principalmente no início da apresentação, alguns atores (estou falando dos meninos) falaram muito baixo e de forma não inteligível. Atenção, garotada!
As músicas também são deliciosas e contagiantes. A partir de diversos instrumentos musicais, alguns deles improvisados (como a metade de uma garrafa pet), a trupe fazia nascer o ritmo, como num passe de mágica, à nossa frente. Isso é muito difícil, ainda mais para artistas jovens, por isso alguns atravessamentos que ocorreram no ritmo são mais que perdoados.
As maquiagens, os figurinos e os adereços são lindos! Ah, tem também um mamulengo incrível no espetáculo: seria fantástico se ele aparecesse um pouco mais, hein!
Bem, já falei o quanto o espetáculo foi contagiante. Contudo, vale a pena ressaltar a imensa alegria das crianças que o assistiram nessa linda manhã de domingo na capital mineira. Olhos brilhantes, mãozinhas inquietas, sorrisos sem dentes, perninhas que dançavam felizes e carinhas assombradas pelo medo (por causa do capeta e do boi bravo), constituíram o maior prêmio para os atores, atrizes e diretor do trabalho, além dos aplausos intermináveis da plateia. “E óia que vi um sinhó colocá 50 real num charpéu nu final da peça”.
Tenho certeza que “Um Sonho de Cordel” brilhará no FETO desse ano.
Luciano Oliveira