Espetáculo “Yalla Go” abrirá 3ª Mostra de Encenações do DArtes/UNIR nesta sexta-feira (26)

Legenda da imagem: 3ª edição da Mostra de Encenações do DArtes/UNIR começa nesta sexta-feira (26) com espetáculo ao vivo “Yalla Go”,  do ator Junior Lopes.

Que tal sextar assistindo um espetáculo teatral, no conforto da sua casa, respeitando o isolamento social imposto pela pandemia da Covid-19?  Essa é a proposta da 3ª Mostra de Encenações do DArtes/UNIR (IIIMEDU), que estreia nesta sexta-feira (26), às 19h, no Youtube.  E para começar essa grande festa do teatro nada melhor do que uma personagem bem conhecida no circuito cultural de Rondônia e até de outros estados.  Estamos falando de Zahara, interpretada pelo ator e professor Júnior Lopes, que saiu dos palcos presenciais e chegou com tudo na internet, no espetáculo “Yalla Go” criado exclusivamente para o meio virtual.

Zahara, que já estrelou o espetáculo “Tabule”, agora apresentará uma Cartilha Cênica ao vivo e on-line, em que ela, libanesa sobrevivente em duas guerras oficiais no Líbano e outras guerras pessoais, apresenta pratos cheios de memórias e lições de como permanecer de pé e se levantar diante de bombardeios. A personagem interpretada por Júnior Lopes é conhecidíssima na cena estadual, tendo circulado em eventos culturais na capital de Rondônia (Palco Giratório, Madeira Festival de Teatro) e em cidades do interior do estado (Festival Amazônico de Monólogos e Breves Cenas), além de ter fechado  a 2ª  edição da Mostra de Encenações, em em novembro de 2018.  

A programação terá mais um espetáculo ao vivo (“Ela, Aquela e a Outra”- domingo – 28  /03) e exibição de quatro obras audiovisuais (“Caipora”, “Avesso”“A Carne” e “Eldorado” – sábado – 27/07). Conversas com os artistas envolvidos nos espetáculos e obras audiovisuais acontecerão após as apresentações. Os bate-papos serão coordenados pelo Professor Luciano Oliveira. A programação da Mostra contará também com o Seminário Processos Criativos em Tempos de Pandemia de COVID-19: do Teatro Convivial à Arte Tecnovivial, que acontecerá no dia 30 de março, das 14h às 18h.

A Mostra de Encenações terá tradução/interpretação em Língua Brasileira de Sinais (LIBRAS) e audiodescrição. O projeto foi contemplado pelo Edital nº 80/2020/Sejucel-Codec 1ª Edição Pacáas Novos – Edital de Chamamento Público para difusão de festivais, mostras e feiras artísticas e culturais (Lei Federal 14.017/2020 – Lei Aldir Blanc).

Sobre a Mostra

 A Mostra de Encenações é um projeto de extensão do Departamento de Artes da Universidade Federal de Rondônia, mais especificamente do Curso de Licenciatura em Teatro, com coordenação do Professor Dr. Luciano Oliveira. Trata-se de um evento no qual são apresentados ao público os projetos de encenação e artísticos desenvolvidos pelos alunos das disciplinas Linguagem da Encenação Teatral e Fundamentos da Direção Teatral, ministradas por esse professor.  Duas edições já foram realizadas no Teatro Guaporé, em Porto Velho (RO): uma em 2017 e outra em 2018. Em sua 3ª edição, a Mostra será realizada totalmente on-line, em decorrência da pandemia do novo coronavírus.

Confira a programação completa da 3ª edição da Mostra de Encenações do DArtes/UNIR:

26/03 –  Espetáculo AO VIVO  “Yalla, go!”, de Júnior Lopes (Classificação Indicativa: 14 anos): https://youtu.be/C4dM9-KNtHA   

27/03 – Mostra Audiovisual  das obras “Caipora” (Rafael Correia, Amanara Brandão e Vinicius Brito), “Avesso”(Ádamo Teixeira, Jamile Soares e Gabriel Corvalan), “A Carne” (Emerson Garcia e Sâmia Pandora) e “Eldorado”( Jamile Soares, Ádamo Teixeira e Gabriel Corvalan)  (Classificação indicativa: 16 anos): https://youtu.be/mAZECPVcUxA  

28/03 – Espetáculo AO VIVO “Ela, Aquela e A Outra”, de Stephanie Matos e Almício Fernandes  (Classificação indicativa: 16 anos): https://youtu.be/KuRL0Wtfeqs  

30/03 –  Seminário Processos Criativos em Tempos de Pandemia de COVID-19: do Teatro Convivial à Arte Tecnovivial: https://youtu.be/hlsXp212Pws  

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Fonte: Assessoria de comunicação da 3ª Mostra de Encenações do DArtes/UNIR

Tabule

TABULE

Por Jussara Trindade

O espetáculo solo “Tabule”, apresentado no Teatro Guaporé no dia 26/11 como encerramento da II Mostra de Encenações do Dartes/UNIR, foi uma verdadeira aula de Teatro!

Em 50 minutos de magia e realidade misturados com rara maestria cênica, o ator Júnior Lopes nos (re)ensinou o que os estudos teatrais da atualidade definem como “encenação”, “atuação”, “gestualidade”, “iluminação”, “cenografia”, “figurino”, “caracterização”, “música de cena”, “texto”, “corpo”, “voz” e tantas outras coisas estudadas e praticadas anos a fio por aqueles que se entregam à dor e à delícia (como diria Caetano Veloso) de contar, poeticamente, uma história a alguém.  

E esse alguém – nós, os chamados “espectadores” – assistimos sim, mas, sobretudo, vibramos intensamente a cada peripécia vivida pela protagonista, a libanesa Zahara. Como ator, Júnior enfrenta o desafio de viver no palco uma personagem feminina; desafio a mais dessa arte milenar que mistura ingredientes díspares como dor e alegria, graça e pesar, ficção e fantasia, inspiração e técnica.

Um homem interpretar uma mulher não é coisa contemporânea… Até recentemente na história do Teatro, a proibição de a mulher apresentar-se em público se fez presente nas mais distintas culturas, do Extremo Oriente ao Novo Mundo. Cabia a esses atores levar para a cena não apenas os trajes, os gestos, as vozes das mulheres de seus tempos mas, principalmente, aqueles seus dons de iludir (Valha-me, Caetano!) que sempre fez da mulher, no imaginário masculino, um ser ao mesmo tempo nefasto e divino. Um ser maravilhoso, entre a serpente e a estrela – canta Zé Ramalho, revelando o sentimento de impotência do homem comum em lidar com o feminino, cuja essência em geral lhe escapa.

Mas não é esse o caso em Tabule; Júnior faz a necessária tarefa de nos lembrar que, para dar vida a um personagem, não basta vestir os seus trajes ou “fazer” a sua voz. Quem gosta ou vive o Teatro acaba aprendendo que representar vai muito além da mera “representação”. De modo que, em cena, não vemos um ator representando uma mulher, mas uma muçulmana contando a sua dolorosa trajetória como se não fosse assim tão dolorosa…  Cada gesto, cada palavra entoada com aquele delicioso sotaque árabe – reconhecido na fala de inúmeros imigrantes que todos nós conhecemos por este Brasil afora – é a pura presença do Feminino, não só em forma, mas principalmente em conteúdo. Os elementos de dança do ventre que o ator executa em cena extrapolam em muito o desempenho das complexas técnicas de movimento dessa arte milenar (o que já seria, em si, uma façanha e tanto!), tornando-se a metáfora de cada etapa vivida com e através do próprio corpo, trazendo para nós espectadores o sentido de que o universo reside mesmo no ventre da mulher. Com tudo o que isso pode significar em termos de tristeza, alegria ou esperança. Dançamos junto com Zahara em todos os momentos em que ela se entrega ao som contagiante de sua pátria, ainda que esta lhe seja tão dura e árida quanto o deserto.

O ator mostra-nos a cada segundo o desafio que é criar em cena uma figura feminina profundamente humana cujo desabafo, embora tão verdadeiro e atual, não se permite em nenhum momento cair nas armadilhas da lamentação chorosa ou no recurso fácil da caricatura. Ao contrário, a tragédia de uma vida repleta de episódios cruéis é tratada com a espantosa naturalidade de quem vê e vive cotidianamente a violência sobre a sua pessoa, pelo simples fato de ter nascido mulher. Violência essa, naturalizada na sociedade, instituída no lar, sacralizada nas Sagradas Escrituras.

Em sua simplicidade, Zahara percebe que há algo errado com o mundo que habita. Tenta em vão encontrar, nele, algum espaço digno para si. Então, ao constatar que não existem linhas de fuga para fora dessa realidade cruel, foge enlouquecida. Em busca de um mundo que existe apenas nas “mil e uma noites”, a protagonista atravessa oceanos… de areia! Jornada desesperada de quem, à procura de um sonho de liberdade, só encontra miragens. Por isso, aonde quer que vá, mesmo em sua terra natal, Zahara é sempre uma estranha. Ilegal. Reconhecida como socialmente incapaz de arbítrio, eternamente dependente do favor do homem – seja o pai, o irmão, o marido ou o cliente num prostíbulo – só lhe resta o desejo mórbido de explodir o mundo e, junto com ele, todo o conjunto de atrocidades que bem conhece, no corpo e na alma. Ato de puro terrorismo, do qual nós, espectadores, nos tornamos cúmplices. Afinal, quem na plateia – homem ou mulher – não seria capaz de reconhecer na fantasia de “vir para o Brasil, onde não existe violência contra a mulher”, sua própria imagem refletida ironicamente nesse jogo de espelhos?

Porto Velho, 28/11/2018

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